quinta-feira, 7 de agosto de 2014

20 Anos do Plano Real na Universidade Estadual de Maringá

Segunda-feira tive a oportunidade de conversar com a comunidade do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá a respeito dos 20 anos do Plano Real (link aqui). Na palestra fiz uma avaliação do plano e tratei das perspectivas para economia brasileira. Argumentei que o Plano Real organizou a economia brasileira após o caos deixado por trinta anos de desenvolvimentismo e uma série de choques heterodoxos visando combater a inflação. Porém para atender o aumento de gastos decorrente, entre outros motivos da Constituição de 1988, e manter o câmbio dentro das bandas o Plano Real caiu em uma armadilha, qual seja: a elevação da dívida pública de forma simultânea a elevação da taxa de juros. A armadilha consiste no fato que quanto maior a taxa de juros mais a dívida cresce, porém quanto mais a dívida cresce maior o prêmio de risco e maior a taxa de juros.

No limite a armadilha se mostrou fatal e o Plano Real original foi substituído pelo Tripé Macroeconômico. Ao adotar câmbio flexível e fixar objetivos de superávites primários o Tripé Macroeconômico escapou da armadilha do Plano Real, os juros não mais precisavam subir para defender uma dada taxa de câmbio e a dívida, apesar de continuar crescendo, foi parcialmente controlada pelo superávite primário. O controle da inflação era feito por meio do Regime de Metas que completava o tripé. A partir de 2008 a perna fiscal foi quase que retirada do tripé, no lugar de buscar garantir superávites primários a política fiscal passou a  buscar o estímulo da economia. A partir de 2011, já no governo Dilma, o câmbio flutuante foi trocado pela busca câmbio de equilíbrio da indústria (seja lá o que for isto) e os juros não mais visavam colocar a inflação no centro da meta, o objetivo da política monetária passou a ser estimular a economia e reduzir juros para induzir o investimento. Estava criada a Nova Matriz Macroeconômica.

A busca pelo câmbio de equilíbrio deu errado e o governo acabou por recuar. Não faltou quem bem quisesse ao Brasil e dissesse para desistir que a busca era inútil, mas o governo preferiu apostar para ver. Perdeu. A tentativa de reduzir juros na marra também deu errado, deixou um gráfico com um sorriso jocoso que já foi razão para um post no blog (link aqui). Até agora a Nova Matriz Econômica, criada para aumentar o investimento, recuperar a indústria e estimular o crescimento, gerou uma queda no investimento, uma queda da participação da indústria no PIB e um governo com taxas de crescimento entre as mais baixas registradas nos últimos anos. De quebra a nova matriz ainda aumentou a inflação. Desta forma as perspectivas são de desastre no caso de manutenção da Nova Matriz Econômica e a necessidade de um forte ajuste no caso de retomada o Tripé Macroeconômico. Triste sina para um governo que se anunciou como o governo do PIBão.

Agradeço aos que participaram do evento, o auditório estava lotado até o final do evento, e ao Departamento de Economia da UEM. Em especial agradeço ao Prof. Gilberto Fraga por ter me convidado e pelo excelente jantar após o evento.




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